
Jornalismo no CINEMA
Sempre que vemos um filme é comum encontramos um personagem heroico, que vai passar por uma aventura, enfrentar um vilão e, ao final, receber o prêmio ou o castigo pela eficiência do seu desempenho nos conflitos. Algumas dessas vezes este herói é um jornalista. É deste filão da cinematográfico que nos ocuparemos neste texto. De acordo com a autora Christa Berger, que escreveu o livro “Jornalismo no Cinema” (2002) são 785 obras abordando jornalismo ou os profissionais da área, sendo 500 provindas dos Estados Unidos. Esses que são aqueles que contam a história do mundo real são também muito representados nas telas. É interessante falarmos disso, pois, o cinema por ser um veículo de comunicação de massa, pode mostrar as pessoas como é a vida e o trabalho de um jornalista. Com sua tela gigante e sua magia, o cinema vem captar a atenção do público através de uma história cativante e envolvente, que crie empatia. Empatia, para alguém que ainda não saiba o significado da palavra, é aquilo que faz com que nos sentimos na pele de alguém. Faz com que nos coloquemos no lugar da pessoa, entenda o que ela está passando. É um recurso indispensável no cinema quando se quer conquistar a atenção do público.
Muitas vezes visto como aquele que pergunta, incomoda, descobre segredos das pessoas, causas brigas e intrigas, estamos acostumados a pensar nesse profissional como vilão, que vai trazer o lado negro das pessoas à tona. Deve-se levar em conta que o jornalista busca, no exercício de sua profissão, trazer a verdade dos fatos, muitas vezes fazendo justiça, revelando corrupção e escândalos que trazem prejuízo às pessoas. O jornalista busca o tempo todo, não ficar em cima do muro, não escolher um lado, mas sim a verdade imparcial, o que muitas vezes fica difícil, já que o jornal, ou o veículo onde ele trabalha, acaba se associando a um dos lados. Esse lado muitas vezes, é quem patrocina, é quem banca o jornal. Sendo assim, qualquer notícia veiculada pode fazer o jornal perder dinheiro e assim perder a capacidade de fazer notícia.
Como ressalta. Stella Senra (1996, p.87), “coube à ficção, como desdobramento mais popular entre as diferentes formas assumidas pelo filme, o estabelecimento de um padrão de convívio mais íntimo e prolongado entre cinema e jornalismo” .
Stella é doutora em Ciências da Informação pela Universidade de Paris II, pesquisadora e ensaísta com colaboração em livros sobre cinema, televisão, jornalismo e literatura. Foi professora da Faculdade de Comunicação e Filosofia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Alguns textos da autora estão reunidos em sua página http://www.stellasenra.com.br/ caso você queira conferir.
Ela conclui que esses filmes servem para trazer para a população a real face do jornalismo. São produções que, mais do que ter jornalistas como protagonistas, colocam a prática jornalística como ponto central de suas tramas e buscam reconstruir a relação do profissional.
Vamos deixar claro: pratica jornalismo todo veículo cujo propósito central seja CONHECER, PRODUZIR CONHECIMENTO, INFORMAR de forma o mais imparcial possível. Enquanto aquele veículo cujo objetivo central seja CONVENCER, ATRAIR ADEPTOS, DEFENDER UMA CAUSA, faz propaganda. Um está na órbita do conhecimento, ou seja, informar quem quer ser informado; o outro, da luta político- ideológica, influenciar pessoas para uma causa. Um jornal de um partido político, por exemplo, não deixa de ser um jornal, mas não pratica jornalismo, não como aqui definido: noticia os fatos, analisa-os, opina, mas sempre por um prisma, sempre com um viés, o viés do partido. E sempre com um propósito: o de conquistar seguidores. Faz propaganda. Algo bem diverso de um jornal generalista de informação: este noticia os fatos, analisa-os, opina, mas com a intenção consciente de não ter um viés, de tentar traduzir a realidade, no limite das possibilidades, livre de prismas e preceitos. Produz conhecimento. O Grupo Globo, por exemplo, terá sempre e apenas veículos cujo propósito seja conhecer, produzir conhecimento, informar. Há quem diga que esse grupo use de seu jornalismo para propagandear ideais políticos, mas não abordarei isso aqui.
Em resumo, portanto, jornalismo é uma atividade cujo propósito central é produzir um primeiro conhecimento sobre fatos e pessoas.
Ao longo da trajetória do cinema mundial e nacional, podemos observar diversos filmes abordando o jornalismo direta ou indiretamente, como o caso do premiado Cidadao Kane, A montanha dos cinco abutres, o Quarto Poder, O Preço de uma Verdade, O Abutre, Mli Vezes Boa Noite e Spotlight. Temos ainda menções aos profissionais do jornalismo, sem no entanto, ocuparem eles a centralidade do enredo, em casos como Tropa de Elite 2 e Guerra Mundial Z.
Assim, o cinema pode mostrar o lado positivo da profissão. Mostrar que o jornalismo se presta a ajudar as pessoas a se informarem e refletirem para melhorar de vida, para que a sociedade possa evoluir. São profissionais sempre em busca da verdade, que muitas vezes, arriscam suas vidas parar descobrir o que infratores ou vilões não querem que seja descoberto, para ir até o fim, custe o que custar, para revelar a verdade.
Ainda, pode o cinema mostrar-nos como é o dia a dia de um jornalista, e aproximar as pessoas desse profissional, mostrando que ele, em sua busca por trazer informações, em trazer a verdade, almeja ajudar as pessoas e melhorar o mundo que vivemos.
O primeiro “filme de jornalista” produzido foi O Poder da Imprensa (The Power of the Press, EUA, 1909), dirigido por Van Dyke Brooke. A obra contava a história do corrupto prefeito de uma pequena cidade que tenta corromper o novo editor do jornal local e, com a recusa do jornalista, inicia uma campanha para destruir sua reputação. Muda, em preto-e-branco e com apenas três atores creditados, a película abriu caminho para uma série de filmes que ambientariam suas tramas dentro do universo do jornalismo. Na história, o dono de um jornal, começa a criar situações e caso para que, seu repórter não peça demissão nem saia da cidade.
Filmes contribuíram e ainda contribuem, para a criação de mitos acerca do exercício da profissão e de estereótipos para o profissional de imprensa e são aceitos pela sociedade como retratos verdadeiros, graças a extraordinária credibilidade que é inerente à natureza do cinema, onde, é forçoso reconhecer há sempre o risco de se fazer mentiras passarem por verdades. O simples fato de estar sendo passando numa tela grande, para muitas pessoas ali presentes, torna o fato verdadeiro. Do confortável efeito da ficção, o cinema já manipulou plateias para enaltecer ou destruir a mídia, reforçar seus mitos e denunciá-los ferozmente.
Como em qualquer filme, o personagem caminha para dois lados, o bem ou o mal. O jornalista-vilão é visto como o profissional que não mede esforços para conseguir seus objetivos e dar o ‘furo’ de reportagem e que não hesita em colocar sua carreira na frente de tudo e todos. Enquanto o herói identifica-se com os valores do mundo público e defende a verdade, a democracia e o bem comum.
Porém, acima de uma figura digna de admiração ou repulsa, o profissional possui “um rosto, uma identidade e um aspecto meramente humanos e, portanto, ele está sujeito aos revezes da vida e da profissão” Por isso, de acordo com a pesquisadora Macelle Khouri Santos (2009, p.180) o “jornalista do cinema de Hollywood não deve ser visto nem como herói, nem como vilão. Ele é apenas um jornalista, que vivencia, de diferentes maneiras, o dia-a-dia da profissão”.
Um filme que retrata bem isso, toda essa trajetória de um jornalista e também considerado por muitos, o melhor filme de todos os tempos é o Cidadão Kane. Abaixo dele, fiz uma lista de filmes que trazem, de alguma forma, um olhar inusitado sobre essa profissão.
Cidadão Kane (1941)
A narração da vida de Kane é contada por meio de recursos jornalísticos, com destaque para o narrador-onisciente, que se vale de imagens que ilustram sua voz em off. Ele faz um breve resumo de toda a trajetória de Kane, comparando o palácio rico e incompleto de Xanadu com a vida do magnata. Em aproximadamente nove minutos, o narrador traça um percurso biográfico do jornalista. Nesse tempo, aparecem trechos de notícias retiradas dos jornais, manchetes e dizeres de amigos e rivais e do próprio Kane, a fim de introduzir o espectador no desenvolvimento do filme. Tal apresentação documentária funciona como um lead de uma matéria. Com o telespectador ciente do ponto de partida e chegada do filme, a narração avança para o miolo propriamente dito.
O longa de Orson Welles inicia já com o protagonista morto, para dessa forma, mudar a cronologia dos fatos, uma vez que a história se baseia na vida do considerado magnata do jornalismo William Randolph Hearst, através de Charles Foster Kane, um pobre e humilde menino que na fase adulta, chega ao status de um dos homens mais ricos do planeta.
Logo depois de inúmeros dias com notícias de cunho sensacionalista sobre sua morte, o jornalista Jerry Thompson, vivido pelo ator William Alland, juntamente com um grupo da redação, acaba sendo enviado por seu chefe para fazer uma investigação sobre a vida de Kane, no propósito de levantar o significado de sua última palavra dita: Rosebud – que em português, significa botão de rosas.
Então, Jerry parte em busca de fontes. Entrevista pessoas ligadas a Charles, e por fim, acaba entrando de cabeça na história do homem, visto como solitário, e que desde a infância, era obrigado a ter de seguir contra suas vontades, pois nenhuma das pessoas que o cercavam se importavam com ele. E nisso, Kane tentava buscar, através da aquisição de bens, a atenção da sociedade.
Naquele tempo, a mídia especulava que a palavra Rosebud devia de ter um sentido de grande importância para Kane, pelo simples fato de ter sido a última palavra do magnata. E por meio de toda essa trama, que acaba envolvendo um ar de mistério, a vida de Kane é passada aos olhos do espectador, a primeira vez, dessa forma: escândalos, luxuosidades em demasia e uma vida pública bastante conturbada.
Porém, no final, a plateia, enfim, capta a ideia e a essência de toda história. O menino criado na pobreza, e que na fase adulta, torna-se um poderoso milionário no ramo do jornalismo, na verdade, queria mesmo resgatar as memórias do passado, a simplicidade e a inocência que perdera ao longo do caminho. Fator esse que acabou passando despercebido pela imprensa investigativa local.


Menção Honrosa
THE NEWSROOM – SÉRIE
(2012 A 2014)
Uns dos âncoras mais respeitados do telejornalismo nos Estados Unidos, Will McAvoy (Jeff Daniels) perde a cabeça ao ouvir uma pergunta idiota em um debate universitário. Ele acaba tirando um período de férias e quando retorna para o programa "News Night" é obrigado pelo homem forte da divisão de jornalismo do canal ACN a aceitar uma nova diretora chefe em seu programa.
McAvoy, no entanto, não fica feliz ao descobrir que a profissional é ninguém menos que MacKenzie McHale (Emily Mortimer), sua ex-noiva. Ela tenta superar as diferenças e, ao lado de uma grande equipe, muda o rumo do programa de Will, que passa a ser focado na importância da notícia e não na popularidade.
Série maravilhosa, onde podemos observar o dia a dia de uma redação de jornal de horário nobre, desde a chegada da informação pela fonte, até o momento que vai ao ar, passando por checagem, reuniões, decisões, e até, questionamentos políticos de interesse da emissora. Se você ainda não assistiu assista. É incrível termos, como série de TV, a opção de conhecer a nossa profissão, por dentro, em míseros detalhes. The NewsRoom é recheado de diálogos inteligentes e faz com que você queira devorar cada episódio. Detalhe: as notícias que aparecem no seriado são notícias reais, que aconteceram de verdade, numa forma de aproximar mais ainda a serie do mundo real.

Abaixo segue trecho maravilhoso da série que fala sobre fazer jornalismo de verdade, focado relamente em informar as pessoas.
