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O que te faz VIVER?

Esse final de semana tudo que eu quero é por minhas séries e filmes em dia. Quem nunca disse isso quando chega o final de semana que atire a primeira pedra. A gente trabalha a semana toda, pega ônibus lotado, xingo no transito, bronca do patrão, bate boca com o colega, se escora e dorme em tudo que é canto. Tudo isso pra chegar o final de semana e você aproveitar aquele tempo abençoado, de cama e Netflix. Seria cômico se ao fosse trágico, o fato da gente tentar ser feliz em função apenas de sábado e domingo, vivendo como zumbi nos outros 5 dias da semana. Mas essa vida de cidade grande, de “vencer na vida”, de virar adulto, faz com que a gente muitas vezes fuja das coisas. E essa fuga ocorre de diversas formas, seja através de drogas, que alteram a percepção da realidade, ou que te anestesia ou faz esquecer os problemas, ou através da ficção, que as historias trazem, por meio de filmes, séries, livros e até quadrinhos, não podendo esquecer também, dos jogos eletrônicos, que prendem milhares de pessoas em mundos alternativos e cheios de detalhes, que facilmente tomam o lugar dessa realidade que vivemos, realidade essa que muitas vezes até apresenta um gráfico bacana, mas a jogabilidade contestável, diga-se de passagem.

Veja bem, não estou aqui pra contestar a forma como cada um passa seu tempo livre, ou a forma como gasta seu dinheiro para se divertir. O questionamento que trago aqui é: como estamos cada vez mais focados em suprimir essa realidade, em esquecer-se dos problemas, em deixar de assumir responsabilidades. Buscamos o tempo todo formas de fugir, de tudo aquilo que causa dor, ou muitas vezes um simples desconforto. Até as mínimas coisas viram tempestade em copo d’água. Tudo é intenso demais. Ou muitas vezes o inverso, tudo parece tão vazio e sem graça.

É aí que a ficção auxilia e ajuda nessa fuga, dando corda e deixando um bilhetinho de “fui buscar cigarros, volto já já”. Você dá play na série, no filme, começa o livro. Aquele convite pra balada você desvia, igual o Neo fez com as balas no Matrix, passa no mercado rapidinho, compra todas aquelas gordices que você adora e o plano tá perfeito.

Muitas vezes o cansaço e a correria deixa a vida tão sem graça, tão igual. Você vê passar 365 dias do ano iguaizinhos, acorda, trabalha , volta , facul, dorme, e assim vai. E o seu refúgio, seu momento de felicidade acaba sendo essas histórias maravilhosas que encontramos nas séries e nos filmes (e nos games, quadrinhos etc etc etc). Você se questiona: por que a minha vida não é tão interessante quanto a vida do Harry Potter, cade a fucking carta de Hogwarts que o péssimo serviço do Correios não entregou? (Deve tá parada em Curitiba). Não vejo a hora de começar um apocalipse zumbi pra eu acabar com essa gente chaaata, enquanto isso deixa eu ir matando as pessoinha aqui no PS4 mesmo... e na segunda-feira a rotina toma conta outra vez...

Com esse avanço da tecnologia e da sociedade, com essa coisa chamada globalização, que nós traz toneladas de informação e opções, a gente tá cada vez mais ansioso e sem saber o que escolher. E quando escolhe se arrepende. É aí que o autor  Zygmunt Bauman prova que tem toda razão: estamos vivendo em uma Sociedade Líquida, onde tudo é muito fluido, rápido, sem sentido, sem sabor. Você pega o Tinder, conhece uma duas três, quarenta pessoas e no final não conheceu ninguém. Uma coisa é clara em suas obras: vivemos em um mundo de incertezas. Isso vem tanto da grande oferta de produtos, que te faz ficar indeciso em que carro comprar, que lanche comer, até a insegurança quanto a seu emprego e a seu papel no mundo. São tempos de relações sociais frágeis, que cada vez mais se tornam relações comerciais e individualizadas. Você me dá o que eu quero e eu te dou o que você quer. Não há um referencial moral, uma lado a seguir (como na Guerra Civil da Marvel,  ou ao escolher entre Batman e Superman, Batman óbvio né, mas continuemos...). Estão todos jogados à responsabilidade própria e ao risco de seguirem e construírem suas vidas sem porto seguro nenhum. Uma vida sem rumo.

Pode parecer fútil essa procura por relações, em Tinder ou qualquer outro aplicativo, mas a resposta é muito simples: estamos em busca de conexão. Pode parecer sim um cardápio, um catálogo de pessoas, não deixa de ser. Mas procuramos, de uma forma digamos “organizada” encontrar alguém que nos entenda, que tenha algo em comum, que nos desperte essa segurança e felicidade. Essa fuga da realidade que cito aqui no texto é resultado disso. Você entre no facebook, se frustra por não encontrar alguém pra chamar de seu (um namoro ou até mesmo um amigo) e foge pra aquela história romântica do Greys Anatomy, ou do How i met your mother. E vai pausando a série de vez em quando pra sonhar e checar se o crush respondeu, se curtiu a foto, se tá solteiro...

Resumindo, o pensador Bauman ainda diz que quando a qualidade das relações diminui muito, (tipo aqueles namoros bosta que tu vê que é de mentira sabe) a tendência é tentar recompensar essa frustação com uma quantidade absurda de “felicidades”. Talvez um bom exemplo seja, também, a quantidade de amigos que as pessoas costumam ter em redes sociais. São números que ultrapassam 300, 500 amigos, algo que seria irreal para uma convivência cotidiana de qualidade. Ou quando a pessoas tem um milhão de contatinhos, mas não consegue ter um relacionamento solido.

Precisamos trazer pra realidade essa magia que habita os filmes de romance, suspense, superação e heroísmo. Precisamos ser os protagonistas de nossas histórias, não os figurantes. Viver com intensidade e não quantidade. Ter aquele amor que o Ted tem pela Robin, ou aquela vontade de viver do Barney. Ter amigos como os de F.R.I.E.N.D.S que você pode contar com eles a todo momento. Ser bem-sucedido como o Homem de Ferro. Você me diz “para de sonhar isso não existe no mundo real”. Mas eu te digo que, a realidade, assim como as histórias, quem cria é você. O único que pode amar intensamente e se aventurar nesse mundo são vocês. Deixem que histórias sejam contadas em seu nome, que livros sejam escritos por ti e sobre ti. No final o que vale não é viver fugindo, mas sim ficar e lutar até o fim, pois só os fracos desistem, e só que luta é digno de viver...

Vem ser feliz aqui fora... Termina essa série depois....

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© 2017 por CAIO MARRERO. Orgulhosamente.

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